"Anthropologie et Cinéma" par Marc-Henri Piault. Leçon 4 : Décrire, illustrer ou expérimenter (English and Portuguese subtitles)

Fr : Au début du XXème siècle se réservant le champ des sociétés perçues comme en marge du courant unifiant de La Civilisation, l’ethnologie s’efforçait en réalité de découvrir sur le terrain de ses investigations la confirmation de représentations théoriques apriori, c’est-à-dire des sociétés figées dans une atemporalité structurelle et fonctionnelle. Ces travaux contribuaient à justifier, comme à la fin du XIXè siècle, le maintien sinon même l’extension des dominations coloniales par les pays occidentaux. Les images exotiques des cinéastes voyageurs et des rares productions d’intention ethnographique de l’époque contribuaient à rassurer l’homme blanc quand à ce qu’il estimait être ses “avances” technologiques et sociales : à l’opposé le cinéma désormais appelé «documentaire», montrait de nos sociétés des images critiques, peu encourageantes sinon même totalement désespérantes.

Vers la fin des années vingt un mouvement fait progressivement émerger le cinéma de l’esthétisme formel de l’avant-garde pour s’approcher du réel, de la société environnante tout en cherchant à traduire par la dynamique des images, des mouvements de caméra, des luminosités et des cadrages, un sens sous-jacent à l’apparence des choses. Casser la linéarité narrative semble être une des premières leçons vertovienne qui marque le cinéma de ces années. En même temps persiste l’influence de l’expressionnisme allemand à laquelle vont se mêler le romantisme et le lyrisme environnemental hérités de Flaherty et des premiers grands films fictionnels ou documentaires d’aventures exotiques.

Eng : At the beginning of the 20th century, reserving the field of societies perceived as being on the margins of the unifying current of Civilization, ethnology sought to discover in the field of its investigations the confirmation of a priori theoretical representations, that is, of static societies in a structural and functional timelessness. These works contributed to justify, as at the end of the 19th century, the maintenance, if not the extension, of colonial domination by Western countries. The exotic images of traveling filmmakers and the rare ethnographic productions of the time helped to reassure the white man about what he considered to be his technological and social “advances”: on the other hand, the cinema now called "documentary", showed critical images of our societies, not very encouraging if not even totally despairing.

In the late 1920s, a movement made cinema gradually emerge from the formal aesthetics of the avant-garde to approach reality, the social environment, seeking to translate the dynamics of images, camera movements, luminosity, and framing, giving a sense of underlying the appearance of things. Breaking the narrative linearity seems to be one of the first Vertovian lessons that marked the cinema of those years. At the same time, the influence of German expressionism persists, with which romanticism and environmental lyricism inherited from Flaherty and the first great fictional films or documentaries of exotic adventures would mingle.

Films :  Cooper et Shoedsack (Grass: a Nation Battle for Life), W. Ruttman (Symphonie d'une grande ville), S. Epstein (Finis Terrae), J. Vigo (A propos de Nice), L. Bunuel (Lashurdes), J. Ivens et H. Storck (Misère au Borinage), le cinéma social britannique (Drifters; Song of Ceylan; Night Mail; Housing Problems.).

Pt : Ficção, exotismo, deslocamento colonial e além: reconhecendo a diferença

No início do século XX, reservando-se o campo das sociedades percebidas como à margem da corrente unificadora da Civilização, a etnologia na realidade procurou descobrir no campo de suas investigações a confirmação de representações teóricas a priori, ou seja, de sociedades estáticas em uma atemporalidade estrutural e funcional. Esses trabalhos contribuiram para justificar, como no final do século XIX, a manutenção, senão mesmo a extensão da dominação colonial por parte dos países ocidentais. As imagens exóticas de cineastas viajantes e as raras produções de cunho etnográfico da época ajudaram a apaziguar o homem branco sobre o que ele percebia como seus "avanços" tecnológicos e sociais: em contrapartida, o cinema agora denonimado como “documentário” mostrava imagens críticas de nossas sociedades, pouco incentivadas, se não totalmente avassaladoras.

No final dos anos 20, um movimento fez com que o cinema emergisse gradualmente da estética formal da vanguarda para aproximar-se da realidade, do ambiente social, procurando traduzir a dinâmica das imagens, movimentos de camera, de luminosidade e enquadramento, dando um sentido subjacente à aparencia das coisas. Romper a linearidade narrativa parece ser uma das primeiras lições vertovianas que marcaram o cinema daqueles anos. Ao mesmo tempo, persiste a influência do expressionismo alemão, ao qual se misturarão o romantismo e o lirismo ambientalista de Flaherty e os primeiros grandes filmes de ficção ou documentários de aventuras exóticas.

Filmes: Cooper and Shoedsack (Grass: a Nation Battle for Life), W. Ruttman (Berlin: Die Sinfonie der Großstadt), S. Epstein (Finis Terrae), J. Vigo (À Propos de Nice), L. Bunuel (Lashurdes), J. Ivens e H. Storck (Misère au Borinage), cinema social britânico (Drifters; Song of Ceylan; Night Mail; Housing Problems).